Entrevista Victor Hugo (Menino)

"Caminhar sempre nos moldes da consciência tranquila" 

Foto: Edson de Melo/CEIS
Foto: Edson de Melo/CEIS

Despontando no cenário da doutrina Espírita como palestrante, Victor Hugo Guimarães, de 24 anos, mais conhecido simplesmente por 'Menino', recebeu a reportagem do Notícias Proluz em maio, antes da palestra em comemoração ao aniversário do Centro Espírita Irmã Scheilla. Morador de Uberlândia (MG), o jovem vem se destacando desde os 15 anos por suas palestras e reflexões espíritas que compartilha diariamente pelo WhatsApp. Ele conta que seu trabalho na doutrina começou no 'susto', explica como consegue conciliar os compromissos pessoais com o trabalho de levar a palavra de Cristo, e conta como deseja terminar esta encarnação: "Menos erros desta vez!", diz. Confira!

HELDER BARBOSA E ALINE LEONARDO
(Entrevista completa) 

Qual foi o seu primeiro contato com as atividades na casa espírita e como foi seu ingresso como divulgador da doutrina? Como você concilia suas atividades no seu dia a dia?
Meu primeiro contato com a doutrina espírita foi no útero, porque quando eu nasci os meus pais já estavam na casa espírita, então por sinal já fui cultivado desde pequeno nesse ambiente. Mas eu tive um período com um certo distanciamento, apesar de nunca ficar longe, mas com 15 anos é que eu assumi esse compromisso do coração e a partir de então, falei, vamos lá, já que é isso, viemos para isso, então... mas, em relação à divulgação, foi por volta dos 17 anos... faltou um palestrante e meu pai falou assim: por que você não faz? Aí eu pensei: ôpa! Meu Deus! Foi meio no susto, mas deu tudo certo, e de lá pra cá não tem faltado oportunidade. Antes disso, meu pai sempre me incentivou nos evangelhos do lar que a gente fazia, na peregrinação, que é na visita no lar das pessoas, para distribuição de cestas, a gente fazia o evangelho, então a gente sempre estava comentando, fazendo uma prece. Eu comecei fazendo orações, e de lá pra cá tenho aprendido muito. Estou terminando meu curso de Letras, faço dois estágios, dou aula particular, tenho compromisso espírita, tenho os compromissos na família, é um monte de coisa, nem eu sei como dou conta... a beira dos limites.

O que você diria para o jovem como estímulo aos estudos sérios da doutrina espírita? Como conciliar as demandas da atualidade e a necessidade de desenvolver o lado espiritual?
A respeito do estudo, tempo a gente tem, de certa forma, no nosso dia a dia... Emmanuel vai nos ensinar justamente a utilizar os minutos, aproveitar os minutos, porque são luzes que a gente vai acendendo no dia a dia e, quando a gente menos percebe, são vínculos que a gente vai sustentando. É certo que tem muitas demandas e vai surgindo campo profissional, enfim, muitas coisas acontecendo, mas de certa forma, se a gente parar pra observar, a espiritualidade ela vai sendo como que um alicerce que permite que esse edifício profissional cresça com muito mais sustentação. O que a gente tem percebido hoje são pessoas cansadas, porque nessa busca desenfreada por alcançar algum objetivo, mas parece que é inalcançável, parece que aumenta o vazio, então a gente vai mergulhando e já entra em uma expectativa que vai ficando sem sentido. A espiritualidade é que vai resgatando a nossa essência e isso já começa de forma diferente, a gente já se engaja na sociedade de uma outra maneira.

O que fazer para atrair o jovem para a casa espírita?
Eu acho que mais que atrai-lo, o nosso desejo tem que ser o de acolher, porque se vier dois, três, quinze ou vinte, a questão não é o número, mas o quantos destes permanecem juntos, porque esse é o diferencial. O cristianismo não cresceu por números, mas por pessoas que se sentiram bem e quiseram ficar. Se tratar alguém muito bem é um cartão de visita para a pessoa voltar.

Qual seu maior desafio hoje na divulgação da doutrina espírita?
Caminhar sempre nos moldes da consciência tranquila. Essa é a minha meta diária interior que eu sinto que, de certa forma, é aquilo que vim para fazer. Sair dessa encarnação e ter condições de olhar para Jesus e falar: 'Mestre, deu certo! Menos erros desta vez!' Esse é o meu desejo.

Além da sua facilidade de comunicação, qual outra mediunidade você tem e qual recado você deixa para os jovens?
Eu sou o médium da prece, na reunião mediúnica, essa é a minha função. A minha mensagem é: é preciso permitir "ser", experimentar a vida, se a gente se permite experimentar tanta coisa, porque não começar a cultivar a essência dessa crença mais viva que nos nutre e nos ajuda a crescer?

Como levar ao jovem as palavras de Cristo? Como você vê o uso da tecnologia para atingir esse público?
O apóstolo Paulo, de maneira bem pedagógica, diz algo que pode nos ajudar a encontrar um caminho: "Fiz-me de tudo para todos, para de todos os meios chegar a salvar alguns". Ele diz isso considerando o esforço de aproximação com cada público que ele tinha. É preciso aproximar, por isso, da realidade do jovem construindo uma ponte entre seu mundo e as lições que Jesus propõe. Ai, nesse caso, a tecnologia pode ajudar bastante, como também a arte em suas múltiplas manifestações, já que se valendo de tanto conteúdo que está na internet, filmes, músicas, séries surge campo para estudo, momentos de refletir sob a ótica do espírito imortal. O mais importante, por exemplo, é conseguir enxergar as lições do Mestre por toda parte, construindo lucidez e consciência para viver cada experiência diferente.

Hoje, o mundo está em transição. Estamos passando da Terra de provas e expiações para a Terra de regeneração. E, pelos estudos, sabemos que muita mudança está chegando e quem não se adequar, provavelmente não deve retornar ao planeta em outra vida. E, atualmente, vemos as pessoas mais odiosas, sem amor, sem respeito, totalmente do "avesso". Como passar por isso tudo? Qual o papel do espírita neste processo?
Emmanuel tem uma frase belíssima: "Quando a treva se faz presente, o momento é de fazer luz". De tal forma, muitas vezes queremos combater o mal, só que acabamos quedando no caminho por nos valermos dos recursos do mal para querer o bem e aí "caminhamos para o inferno na direção do céu", na feliz expressão de Divaldo. O desafio não é nem os outros, é assumir o compromisso da consciência tranquila em cada dia, fazendo o que nos cabe, preenchendo o tempo com as disposições do bem. Por vezes, paramos para criticar e opinar sobre tudo que nos acontece, e por mais tenhamos possíveis razões, o melhor caminho será aquele que abraçamos o que nos cabe, fazendo brilhar a luz dos nossos esforços no bem. O mal é muito escandaloso, já o bem é silencioso. A meta não é fazer barulho como mal, mas antes iluminar, já que naturalmente a luz quando acesa vence em silêncio a própria treva. É o tempo do serviço no anonimato, do bem silencioso, mas sempre operante, da disposição de tentar compreender erros, de entender a confiança divina em nós e de prosseguir fiel aos propósitos, reconhecendo que Jesus nesse momento espera de cada um conforme as suas possibilidades.

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Uma das mais expressivas passagens de Jesus foi suportar a aparente derrota no mundo, aprendendo a construir em Deus e em si mesmo a vitória real. Ainda hoje, é preciso aprender a vitória real, que é testemunhar a vida que o evangelho nos proporciona ao coração no esforço sincero de cada dia, com a alegria de sentir-se amado e enxergado pelos espíritos amigos, que nunca nos deixarão, como Jesus prometeu, e nos fortalecerão para o cumprimento das provas em curso na Terra. Essas são minhas palavras ao leitor(a) amigo(a), saibamos construir a vida a partir da sabedoria da consciência tranquila, em perfeita comunhão com o amor do mestre.